A MINHA ESSÊNCIA

Para tudo, ou quase tudo.

Preparada para o cenário dantesco depois da intervenção.

Que as primeiras horas seriam cruciais e num emaranhado de fios, tubos e máquinas, eu estava preparada para o primeiro impacto que se revelou cruel para todos nós.

Naquele momento, quando a vi aproximei-me.

Beijei-a e acariciei-lhe a face, ainda completamente sedada e sem dar pela minha presença, dei comigo perdida, sem norte e assustada.

A pele branca, o corpo frio, os gemidos, a dor visível, demasiadamente exposta.

Hoje sinto coragem para escrever aqui, que o cansaço tem sido grande mas não podia deixar de agradecer e pensar naqueles que nos acompanharam e torceram por ela neste momento tão penoso, desde o primeiro instante.

Foram muitas as mensagens de apoio e as palavras de conforto e outras que nunca chegaram num momento tão delicado.

Com todos as consequências que este tipo de intervenção implica, esperei mais respeito e consideração, mas se calhar esperei demais, que afinal não tenho que esperar nada dos outros, que só dão de si, se quiserem.

Como se estivéssemos a falar de uma micose ou uma unha encravada, mas não estamos e que há outras doenças mais graves, pois claro que sim e que todos, sem excepção, de uma forma ou de outra, temos os nossos momentos de dor, também.

Não sei se efectivamente o pior já passou, não sei o que o futuro nos reserva, mas sei com quem posso contar.

Sei quem me vai ligar, quem me vai escrever e deixar mensagens de coragem e força.

Sei quem vai estar a pensar em mim e a torcer pelo meu bem estar.

Sei com quem posso desabafar e se voltarmos a passar pelo inferno, também sei a quem recorrer e por quem chamar.

A todos vocês que têm estado ao nosso lado, o meu sincero agradecimento.

Cada um de vocês sentirá esta mensagem, ao ler este pedacinho de partilha.

Definitivamente não podemos viver isolados do mundo, nem quero, eu preciso de amigos, preciso de vocês.

Nem todas as horas são boas para uma conversa, mas as vossas chamadas e as vossas mensagem ficaram todinhas registadas e nesses momentos o meu coração voltava a encher-se de forças.

Nos últimos dias precisei de me isolar, no meu pequeno mundo e dar de mim aos que me estavam mais próximos, falo do meu pai que lutou em silêncio e sentiu muito medo.

Se me perguntarem se é possível chorar sem lágrimas, eu digo-vos que sim.

Muitos saberão o significado destas palavras, claro que sim!

Também vos digo que sejam cada vez mais selectivos e exigentes, não com os outros, com cada um de vocês, que só assim se reconhecem os verdadeiros amigos.

Que há pedras que enchem o nosso copo e o fazem transbordar, mas não de alegria.

Há que mudar a água de quando em vez e jogar fora as pedras sujas, que o espaço livre fica para quem o merece.

A isto chama-se renovação da alma e reconhecimento.