Depois de um fim-de-semana que passou a correr com um feriado a um Domingo e que por si só já é razão mais do que suficiente para me deixar chateada, nesta segunda-feira, desejo a todos os meus amigos uma óptima semana.
Deveriamos aproveitar para fazer algo de que realmente gostamos, porque existe sempre um tempinho para nós e mesmo que se pense que é pura demagogia temos que acreditar que esse tempo nos faz falta e nos pertence.
Uma ida ao ginásio, um momento de leitura, um programa televisivo, um café com um amigo, apurar dotes culinários, uma caminhada por mais curta que seja e muito, muito mais.
Cada um sabe na sua verdadeira essência o que lhe dá mais prazer, por isso não é suposto desperdiçarmos o nosso dia e adiar a vida para mais tarde e vivermos com a certeza do que queremos mas com a incerteza de que amanha já poderá ser tarde.
Não me quero voltar a deitar com a sensação de que não fiz pelo menos uma coisa de que gosto, nem adormecer magoada com alguma palavra proferida por alguém que amo e que também me ama a mim, sem que lhe diga o que sinto verdadeiramente e o impacto que teve em mim aquilo que foi dito.
Não são precisos mais do que breves minutos e até mesmo em forma de oração podemos fazer uma introspecção para perceber onde falhamos, se realmente erramos e se deveríamos ter feito em determinada altura um pedido de desculpas.
Devemos deixar sempre uma porta aberta à tolerância, mas ter a coragem para dizer o que realmente sentimos na hora certa.
De nada vale adormecer com o coração pesado e machucado pois não teremos uma noite tranquila e o nosso corpo não irá descansar e de manha quando acordamos, mesmo depois de umas horas de sono, tudo estará na mesma, ou não.
Haverá quem não tenha uma segunda hipótese de se redimir ou de ouvir uma palavra merecida.
Falar pode ser duro mas não falar corrói e deixa-nos infelizes.
Mudar as nossas atitudes e os nossos comportamentos assusta-nos, mas não o fazer, ou nem sequer tentar, não nos dignifica nem nos faz crescer.
Tolerar, ouvir, perdoar e esperar que aceitem o nosso pedido de desculpas é o mínimo que devemos fazer por nós e pelos outros.
Eu hoje acordei assim, com o coração apertado porque ontem me deitei triste, porque não partilhei as minhas angústias, porque não compreendi, porque não pedi perdão, porque não fui tolerante nem me toleraram.
Deitei-me vazia de afectos, de um abraço, de um aconchego para uma noite serena e tranquila.
A cada noite que chega e quando deitar a cabeça no travesseiro, que seja com a certeza do dever cumprido, para com o mundo, os meus amigos, os meus filhos, o meu marido, mas acima de tudo para comigo mesma.
Confesso que desde sábado me sinto arrasada porque algo de terrível aconteceu ao irmão de uma formadora do curso que frequento.
Hoje chegou a confirmação de que faleceu e amanha vai a enterrar.
Gelei quando li o e-mail que me enviaram a dar conta do sucedido.
Como se justifica, quem me explica, quem me dá uma razão pláusivel para o sucedido? Quem lhe roubou a vida e porquê?
Dá que pensar e assusta-me tanto!
Travamos lutas intensas quando na verdade há quem não tem alternativa, não para fazer valer a sua palavra, mas para simplesmente se manter vivo.
Há uma ferida aberta para quem chora a morte de alguem, que muitas vezes demora a fechar e noutras tantas mantem-se aberta para sempre, mas não me parece justo que uma vida seja ceifada assim,mesmo que me digam que não sofreu, que morreu durante o sono, tranquilo.
É arrepiante, nem a oportunidade teve de lutar contra esse monstro que se chama morte.
A todos os familiares e amigos manifesto o mais profundo sentimento de pesar.
Que a coragem não me falte, ao acordar
Que o olhar não se turve, se chorar
Que os ombros não se curvem, se pesar
Que o sorriso não esmoreça, se gelar
Título: Coragem
Autor(a): Maria Carrilho
Data: Primavera de 2003