Muito intransigente e exigente. Pouco flexível. Se calhar tenho mesmo que desacelerar e deixar acontecer. Deixa-lo dizer parvoíces, deixa-lo esquecer-se de coisas que eu quero que as faça à primeira e brincar muito mais com ele e deixa-lo brincar, muito. Deixa-lo fazer braço de ferro com a irmã, deixa-lo levar a melhor e pavonear-se.
Deixa-lo ser menino, que apesar de já não ser pequeno está longe de ser um homenzinho. Que os meninos têm que brincar e dizer disparates.
Que há muitas formas de ensinar, de lhes iluminar o caminho. Deixar que demore um pouco mais no banho, que se esqueça ás vezes, de lavar os dentes, de dobrar o pijama ou se esqueça de fazer a cama.
E as meias espalhadas pelo chão, a roupa suja no quarto, os recados que se esquece de entregar e as canetas que perde quase todas as semanas.
Deixar que se alongue às refeições e que coma bem devagar e tenha o direito de nem sempre apetecer o que lhe coloco no prato. Deixar que a letra nem sempre saia bem à primeira, deixar que o pão com manteiga nem sempre apeteça e que o traga de volta no fim do dia.
E chama-lo à razão pode ser sem gritos, mas ás vezes não sou capaz e se os filhos têm que ser moldados, os pais também.
Que têm direito ao seu momento e devem ser tratados com respeito. E ás vezes não vemos a razão do lado deles, porque se calhar só vemos um lado, o nosso.
E admitir que têm razão não tem que ser difícil, que eles também nos ensinam muito e é com eles que quero treinar a tolerância.
E grito e barafusto e a conversa descamba e teatralizo um episódio que bem podia passar quase que despercebido. Depois digo que não sei ser de forma diferente, mas se calhar até posso e devo e até sei. E depois os castigos que aplico não surtem efeito e as represálias deixam-nos de costas voltadas e tristes. E se calhar é aqui que estou errada, porque o amor pelos dois é muito e nem tão pouco pode ser mensurado.
O amor que uma mãe nutre pelos filhos não se divide, multiplica-se e dá-se de forma incondicional e mesmo nesta forma de dar, pode haver formas diferentes de amar. E não se ama mais ou menos, ama-se de forma diferente, como as idades, como a forma de pensar e de falar e de agir. Ama-se de forma individual, mas ama-se de forma singular, exclusiva, ama-se de forma excepcional, como uma mãe ama um filho.
E quem disse que ser mãe era fácil? E porque é que não tem que ser fácil? Pode ser. E porque é que se complica?
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