(Immanuel Kant)
O dia começou bem cedo e não não foi fácil sair da cama mas o telemóvel tocou como que a puxar-me e eu não o desrespeitei.
Enquanto me vesti, os pequenos acordaram sozinhos e saudaram-me com aquele BOM DIA, com que já me habituaram.
Comecei a acelerar o passo, coloquei o telemóvel no bolso e a cada instante dava por mim a olhar para as horas.
Já estava a ficar nervosa, o tempo estava a passar e não me podia atrasar, tinha que entrar no carro antes das 8h15.
Não consegui estar pronta a essa hora, estavamos atrasados e eu ainda nem tinha comido nada e foi nesse momento que me dei conta da falta de um rádio aqui em casa.
Os meninos ficaram a terminhar o pequeno almoço, ainda tive tempo para a recomendação do costume, que não se sujassem com o leite e a correr desci as escadas para ligar o rádio do carro, eram 8h16 minutos.
Atrasei-me um minuto, entrei em panico, mas logo me apercebi que aquele era o timing certo e como se não bastasse as expectativas até aumentaram porque iriam ser feitos dois telefonemas ao longo do dia de hoje.
Afinal, mesmo as que se consideram doidas por malas também falham e a esta hora já com certeza se instalou o caos na cabecinha de quem ontem não atendeu a chamada da RFM.
É imperdoável, também eu não me perdoo se me ligarem e eu não atender.
O nome do concurso é Doida por malas, mas se não estou maluca, mas sou bem capaz de ficar até ao final da próxima semana.
Dei por mim a proferir a frase quando o meu telefone tocou, passavam alguns minutos das 16h e não foi ninguém da RFM que me ligou.
Ainda aguardei pelo segundo telefonema, já estava eu a jantar mas o telemóvel não tocou.
Não é justo, já escolhi a mala, estou tão dedicada ao concurso e até um postit com a frase colei na parte de trás do telemóvel, não vá eu ter uma branca quando o telefone tocar.
Estou a levar a sério e desde segunda feira que se instalou em mim um nervoso miudo que vai crescendo ao longo do dia até ao derradeiro minuto em que o telefone pode tocar.
A cada dia renova-se a esperança de que vou ser a contemplada com o telefonema mas temo que isso possa não acontecer.
Pelo sim pelo não, quando o telefone tocar, eu digo a frase e depois logo se vê se me tiver que desculpar, caso me ligue um cliente, a professora do meu filho, a minha mãe, uma amiga, o meu chefe, eu sei lá!
Nessa altura sim, bem me podem considerar maluca, mas é um risco que tenho que correr.
A mala castanha da Carolina Herrera, vale isso e muito mais, e eu que eu não sou nada fútil nem agarrada a bens materiais, nada disso!
Pelo sim pelo não , amanha vou comprar um rádio.
Mas ainda não foi hoje, talvez me liguem amanha....
Começou em Setembro e tem corrido pelo melhor.
Está muito entusiasmado e desde a semana passada, quando recebeu nos anos o seu fato novo, ainda mais radiante ficou.
Não escapa, por opção própria aos dois dias de treino semanais, e se até aqui bastavam uns simples calções e uma camisolita qualquer, agora quem tem que se por em sentido sou eu, para que o fato esteja sempre nas devidas condições.
Já me estou a ver a reclamar daqui a uns dias, ou porque o fato não secou e ele queria muito vesti-lo, ou porque o sujo no branco imaculado daquela roupinha não sai com a facilidade desejada.
Nem sei bem onde me meti, de qualquer forma o miúdo está feliz e a cada semana que passa lá nos exemplifica novos passos ou novos movimentos, no fundo, aquilo que aprende com a turminha.
Ainda tenho as minhas dúvidas quanto às palavras proferidas, são tão estranhas que é bem capaz que até mesmo o meu filho não as diga muito bem, ou não.
De qualquer forma tem valido o esforço semanal e a correria para que não se atrase para a aula.
É equipar-se, é leva-lo ao treino, vir dar banho e o jantar à mais nova, colocar roupa a lavar, recolher a seca do estendal, e tudo isto em menos de 60 minutos que é como quem diz, para não chegar muito depois do treino acabar e não encontrar o meu filhote sozinho à minha espera.
Nesses dias já o nosso jantar se prolonga por altas horas, e com um bocadinho de sorte ainda tem uns trabalhinhos de casa para acabar.
Não é fácil, mas também ninguem disse que assim seria....
Um momento filosófico não faz mal a ninguém e nada se constroi sem trabalho, mas o tempo de execussão das tarefas, bem podia ser mais alargado, digo eu.......
Dia 21 de Outubro, domingo.
Já o dia está no fim e em passo acelerado lá estou eu de volta do ponto cruz.
Não vá chegar o momento e as coisas não estão prontas.
Ainda assim, aproveitei a tarde para um passeio à beira mar com o meu marido.
Pareciamos um casalinho de namorados, numa cavaqueira amena, como que a desfrutar de um Verão de S. Martinho antecipado,tal era o sol e o calor que se fazia sentir.
Ainda sinto o sabor e o cheio das castanhas assadas que contrastava com o cheio a maresia desta tarde solarenga.
Na esquina do costume e como já nos habituou, lá estava a Rosa a assar castanhas e escolheu-as a dedo para que eu me deliciasse. Estavam tão apetitosas e estaladiças que se foram num àpice.
Confesso que para um passeio domingueiro podia ter vestido algo mais interessante do que o macacão de ganga que mais parece um saco de batatas.
Mas é assim que eu me sinto bem, não de outra forma.
Confesso que já tenho saudades, talvez pela anciedade própria do momento, pelas espectativas futuras, não que o que possa vir a seguir não seja bom, mas este dia foi especial.
Dia 21 de Outubro, domingo, estavamos no ano de 2001.
Já lá vão quase, quase 8 anos, mas as castanhas assadas nunca me souberam tão bem como nesse dia.
"Todas as pessoas pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a si mesmo."
( Leon Tolstoi )
Há muito que pensava nisto, olhava-me ao espelho e estava cançada do que via.
Dei um corte radical ao meu cabelo.
Não mudei por dentro mas comecei a mudar por fora na esperança de me convencer definitivamente que quero ser diferente, mudar de atitude e nessa altura também irem ficar diferente por dentro.
Comecei a mudar por fora para continuar a lutar por mim, para não deixar de acreditar que os meus pensamentos são válidos, que me assiste o direito a um grito calado, a sorriso fechado, a um olhar profundo a até o silêncio me é permitido.
Porque nem sempre tenho os braços erguidos para céu, não significa que tenha desistido, posso simplesmente estar a descançar e a recuperar de uma qualquer luta que me tenha levado à exaustão.
Quero ser assertiva em tudo que faço e fiel aos meus princípios.
Quero ser feliz, mais tolerante, mais apaixonada.
Quero sorrir todos os dias, ter momentos de prazer com os meus amigos, partilhar momentos de complicidade com o meu amor e crescer em harmonia com os meus filhos e partilhar com eles as minhas vivências e ensinar-lhes que A essência da vida está em reconhecer e em saber apreciar as coisas simples.
. Caminhos
. Insónias
. Sunset
. Taxa de álcool no sangue!...