Ainda estou com os pensamentos a mil. E é provável que eu ainda não consiga passar para o papel, tanto do que aconteceu no domingo. Correr uma maratona não era um desejo. Não foi a concretização de um sonho, mas por ser um desafio do tamanho do mundo, abracei-o. Os abraços não se dão a medo, dão-se com vontade e terminação, mas deste abraço tive medo, como aliás já tive de tantos outros. Mas o medo faz parte do desafio, por isso não vacilei quando de repente surgiu a oportunidade. Pensando bem, não surgiu, eu criei-a. Dormi em sobressalto na noite anterior. Acordei ansiosa e o nervosismo cresceu tanto. Chorei, quando desejei sorte e me cravaram no peito, palavras de incentivo. Tremi quando a música soou na partida e deixei-me ir. O meu marido partiu ao meu lado. Esteve sempre ao pé de mim. Não é facil para quem nos acompanha, quando o ritmo da corrida do outro é superior. Quando as incertezas pairaram, ele foi o mensageiro dos pensamentos positivos. E riu e fez - me rir. Tudo nele era alegria. E as mensagens de apoio e os aplausos fizeram- me mais forte, debaixo daquele sol tão quente. E quilómetro após quilómetro, consegui sobreviver ao calor, ao cansaço, às cãibras, ao medo, às dores nas ancas, no rabo, à assadura no braço, a tudo. A partir do quilómetro 35, propusemos-nos a correr só mais um quilómetro. Seria sempre só mais um, até ao derradeiro. Um quilómetro de cada vez. Aos 37, dançamos!!!! Dançamos!!! A banda ainda ali estava, firme depois de tantas horas a tocar! Ele desafiou-me! E insistiu!!! E foi mágico! Os últimos 5, corri com o coração! Porque o corpo e a cabeça já não tinham como reagir. A meta tornou - se numa realidade e quando terminei voltei a chorar. Demos as mãos, abraçamo-nos e sorrimos. Ali estavam os amigos a torcer por nós, como aliás já o tinham feito ao longo de todo o percurso. Foi surreal! Ainda o está a ser. Há momentos que perduram pela vida fora, este será mais um deles com certeza.
. Caminhos
. Insónias
. Sunset
. Taxa de álcool no sangue!...