
E todos dormem aqui no quarto, já lá fora tenho as minhas dúvidas, que a cidade estava bem animada, cheia de gente bonita pelas ruas e não foi o frio que as deteve. Num domingo à noite, véspera de um dia de trabalho e com um frio cortante, estariam os portugueses enfiados numa manta em frente à televisão. Os espanhóis são mais atrevidos, ou corajosos, ou com uma mentalidade diferente, ou com mais vontade de abraçar momentos de lazer diferentes dos nossos. Não foram as centenas de quilómetros que percorremos ao longo do dia que nos detiveram. Parámos inúmeras vezes, para um café, uma ida à casa de banho, um passeio por aquele sítio que nos pareceu interessante. Até para um pic-nic ao pé de um lago enorme, com uma vista fantástica. Desta vez optamos por umas mini-ferias tipo nómadas e vamos dormir em locais distintos e não nos pareceu a nós má ideia, que nem só de sopas e descanso vive o nosso corpo. Foi um dia agradavelmente passado, as fotos ainda não as descarreguei para o computador, mas algumas ficaram bem giras. Pudera, depois de dezenas e dezenas delas, muitas acabam por escapar. Tenho a dizer que o café em Espanha me surpreendeu, muito bem tirado, foram todos diferentes, desde o aspecto da própria chávena até há forma como foi servido, mas bem saboroso. Hoje descobri que os jogos de telemovel ou a leitura na diagonal de uma revista me causam náuseas e dor de cabeça, quando viajo de automóvel, mas com a leitura do livro que aliás estou prestes a terminar, isso não aconteceu. E ia parando de ler e colocava-o cuidadosamente entre as pernas quando o moreno me chamava a atenção para alguma coisa no exterior, mesmo em auto-estrada.
E não consegui parar de ler e amanha termino um livro que tem sido um gosto. Ainda de volta ao nosso passeio e ao itinerário previamente programado, está a correr conforme planeado que amanha bem cedo lá continuaremos a nossa visita depois de uma passagem por um museu e por um passeio de teleférico aqui na cidade. E agora também eu vou tentar dormir se a vontade de terminar o livro não for maior. E há lá prazeres assim, que nos permitem viajar e viver mesmo que por breves instantes ao lado de tanta gente que nunca tínhamos visto antes. Os lugares tornam-se comuns e até os medos e as angustias se sentem quase que da mesma forma. E é mesmo tão fácil chorar e rir com a leitura de um livro, pela história, pelas personagens, pela vontade de continuar e perceber como vai terminar.
Acho que desta noite não passa e o meu quarto, por mais meia dúzia de páginas, há-de ser " O quarto de Jack".