Nesta época do ano em que tanto se escreve sobre os votos de Natal, corro o risco de me tornar repetitiva e desejar tudo aquilo, que toda a gente deseja.
Saúde, paz, amor, esperança, trabalho e acabar com a fome no mundo, são provavelmente os desejos mais pedidos por todos, a cada renovação da quadra Natalícia, mas pergunto-me se não deveríamos ser mais ambiciosos ainda ou mais sinceros em relação ao que realmente desejamos e deixarmo-nos de demagogias vãs.
O que dizer de alguém que convive connosco no dia a dia, familiar ou amigo, com saúde, com uma casa, com comida na mesa, com trabalho e não é feliz?
O que dizer de um amigo, de nós próprios, que todos os dias mesmo rodeados de tanta gente, do marido e dos filhos se sente só?
O que dizer de tantos que aparentemente são saudáveis, mas vivem com a alma enfraquecida, despojada de afectos, cheia de nada, despidos de auto-estima e ensombrados por um turbilhão de emoções, vulneráveis, melindrados.
Vivem acorrentados a um semblante carregado de tristeza, sem brio, amor próprio e sem esperança.
Desejamos tanto, gostaríamos que o mundo mudasse, que fosse mais colorido, mais bonito, no entanto não vemos toda a infelicidade à nossa volta, no trabalho, na nossa casa, no café onde entramos todos os dias, nos locais comuns que frequentamos assiduamente.
O que dizer de alguém que tem trabalho, que vive desmotivado, oprimido, não é reconhecido, mas que ao nascer de cada dia não desiste e continua a lutar, com todas as suas forças e não abandona o seu posto.
O que dizer de uma família com pai, com mãe, com filhos, mas em que lhes falta tempo.
Tempo para educar ou para brincar com os filhos.
Tempo que não permite acompanhar o seu crescimento.
Tempo que os separa e os divide, tantas vezes por questões profissionais.
Tempo que os aproxima tão só e apenas pelo coração, porque fisicamente não se encontram, porque passam dias longe uns dos outros.
Tempo que rouba a cada dia que passa, um beijo pela manha.
Tempo que rouba um colo quando precisamos de chorar.
Tempo que conta todas as nossas lágrimas, mas que nos deixa sós sem um abraço.
Tempo que nos faz crescer ou definhar com as vicissitudes da vida.
Tempo em que mudamos e deixam de nos reconhecer.
Haverá tanto para desejar, para quem aparentemente tem tudo mas ainda lhe falta tanto.
As nossas famílias estão despidas de conforto mesmo que não lhes falte roupa.
Ás nossas famílias faltam momentos de carinho e de diálogo.
Quantas famílias estão tão perto do abismo, a um passo de desmoronar.
Vivemos num tempo, sem tempo para reforçar os nossos pilares, colocando em risco os alicerces de uma vida sã dando origem ao desequilíbrio mental, à insanidade, ao desalento.
Perguntamos porquê.
Desejo a todos força para lutar, muitas vezes num duelo desigual.
Coragem para saber dizer não e pensar mais em si próprio.
Que não falte um colo, um abraço, alguém em quem possamos confiar verdadeiramente.
Que um pai esteja sempre ao lado da mãe e que juntos eduquem os seus filhos com sabedoria.
Que o amor saia fortalecido nos momentos de provação.
Que nunca falte o respeito e que os laços de um casal se transformem num nó impossível de ser fendido.
Que a integridade seja o nosso caminho e paz de espírito o nosso porto de abrigo.
A todos um Santo Natal.