

Sou do tipo saudosista. Não vivo agarrada ao passado, mas há momentos que marcam de tal forma, que para além de nos terem tornado no que somos hoje, parece que ainda permanecem em nós, tão presentes. O meu pai é único, é um homem de que me orgulho muito! Um homem pacato, parco em palavras. Por força da vida, não me viu crescer, não me viu sequer nascer e sei que isso doeu. Doeu muito. Não revejo a minha infância nas fotos que guardo naquela caixa lilás, já amassada. Sim mãe, a tua caixa de fotos, que tenho há anos comigo e ainda não organizei! Não tenho uma foto, uma que seja, no colo do meu pai. Não tenho. Não me lembro dos presentes que lhe fiz para o dia do Pai. Devo-os ter dado à minha mãe. Talvez os tivesse guardado para quando estivesse para chegar de uma de tantas viagens. Talvez tivessem ficado esquecidos em alguma gaveta. Às vezes também passamos a esquecer aquilo que não nos queremos lembrar. Porque há lembranças que doem tanto. Depois a vida trouxe ao meu pai três netos maravilhosos. Que ele viu nascer, viu crescer, educou, tomou conta, brincou, brincou muito muito. E deu colo e adormeceu. E levou ao médico. Ainda hoje, aquela mão áspera que acaricia o rosto da minha filha, é como se acariciasse o meu. O orgulho e a felicidade é tanto meu, como dele! Porque a vida, quando nos dá uma segunda oportunidade, dá-nos em dobro.