Pouco passavam das duas da tarde quando chegamos ao hospital.
Fomos à visita e o Bigodes, logo, logo nos reconheceu e começou a gemer.
Estava algaliado, estava a soro e aqueles olhitos azuis estavam perdidos.
O mais velho acabou por chorar, cheio de pena, mas o Bigodes está francamente melhor e a continuar a recuperar assim, até pode sair amanhã no final da tarde.
No inicio da semana foi ferrado, pensamos nós. Deve ter andado à bulha, mas isso são suposições, que certezas nunca teremos a não ser que o Bigodes nos confidencie e isso não me parece, não é? Não melhorou, pelo contrário e agora está a antibiótico e proibido de lamber a ferida. Mal consegue comer e está muito tristonho. Acho que ainda está sob o efeito do sedativo, mas falta-lhe vida. Agora é esperar que sare, que cicatrize e que o pêlo cresça. E entretanto deixamos uma nota preta no veterinário. Adiante. Por uma boa causa. Vá Bigodes, põe-te bom depressa!
Ranheta, tosse, febre e dores de cabeça. Os ingredientes perfeitos para deixar a mais nova em modo out. E tinha que ter mesmo algum motivo para se queixar, caso contrário,ontem pela manha, já tinha cantado 574 canções, dançado mais umas tantas vezes e feito de certeza a vida negra ao irmão, enquanto estariam por certo a disputar o comando da televisão, que aqui o comando não é MEO, é de todos! Mas não, com aquelas faces ruborizadas, aninhou-se e de tão quieta a gente desconfiou. Depois de uma visita à pediatra, que por sinal foi bem demorada, que os cachopos andam a ficar todos doentinhos, lá veio a sentença. De maneiras que já está medicada, que não se livrou do famoso antibiótico, tudo por culpa de uma otite que veio tirar ferias para o ouvido da pequena. E ás vezes dou por mim a pensar que os meus filhos bem podiam ser mais pachorrentos, mas já sei que quando isso acontece, eles não estão bem. Vale mais deixa-los pular e saltar e depois mandar vir um ralhete.
E parece-me que a noite por aqui há-de ser animada. Feita de tosse, muita tosse. Irritante que dó ela, que leva qualquer um à loucura e não dá qualquer descanso.
Tenho medo do cancro. Muito medo desta palavra, da doença. Hoje, o cancro voltou a vencer. Quem trava uma luta com o cancro sabe que não está em pé de igualdade. Que a vitoria pode ser conseguida mas a luta é brutal. Perdeu a batalha. Que descanse em paz.
Já liguei muitas vezes para a linha Dói-dói Trim Trim (já nem sei bem se é assim que se escreve), a linha que se chama agora, Saúde 24. Com dois filhos pequenos e achaques constantes, nunca fui apologista de correr para o hospital, só porque sim. O apoio da linha foi muito importante, confesso. Um destes dia, usei-a pela primeira vez, em beneficio próprio. Uma dor intensa num ouvido e outros sintomas que tal, assustaram-me e sem querer ir parar a uma urgência, decidi-me pela linha de Saúde 24. Dada a hora e a minha localização, aconselharam-me a dirigir-me ao Sasu de Espinho com direito a envio de fax, com o histórico da nossa conversa para que prontamente pudesse ser observada. Apesar de estar receosa, o facto de me ter enviado para aquela unidade de Saúde, tranquilizou-me. Uma viagem relativamente curta que se revelou infrutífera. Afinal o Sasu já nem sequer existe. O espaço está lá, dedicado à Saúde, mas que em nada tem a ver com serviço de atendimento. Acabei por me deslocar ao hospital, demorei o triplo do tempo a lá chegar e noutra situação, se o caso fosse mais grave e o tempo fosse determinante, todas aquelas voltas, poderiam ter sido fatais. Sabe-se lá. Ainda bem que não aconteceu com um filho meu. Quantos Sasus espalhados por este país foram ou estarão encerrados, à semelhança do Sasu de Espinho? Dados incorrectos, tanta falta de cruzamento de informação, tantos dados desactualizados. A linha diz não ter conhecimento de nada, que apenas se limita a utilizar a base de dados do SNS. No portal da saúde mantém-se o destaque para aquela unidade, com dados de morada. O telefone toca sem qualquer resposta do outro lado. Será que a linha ainda está a ser cobrada, mesmo sem qualquer utilização? Não sei, decerto estou a fazer desta história um grande filme, mas que o Sasu já não é Sasu, disso tenho a certeza e descobri da forma mais desagradável.
Qualquer altura é imprópria para doenças e nenhuma é bem vinda e infelizmente é coisa que não se controla. Ficar doente é tudo o que eu menos quero e isto que me tirou o sono na noite passada parece ter sido uma cólica renal mas o facto de estar com febre não ajuda, até preocupa e empola mais o quadro clínico. Agora só mesmo um exame radiográfico para despistar. E o medo que eu tenho daquelas dores horripilantes, aquelas dores que eu nunca senti, mas já vi quem padece-se com elas e muito!
Dá dó e muito medo. Dores atrozes, sobre-humanas, diria.
É tão somente por isto que vos lembro que ser dador de medula não custa nada. Eu não sei se é um acto altruísta, chamem-lhe o que quiserem, mas acreditemos que é um simples acto que pode salvar uma vida. Não dói, não custa nada e pode transformar-se em algo muito poderoso.
Eu sou dadora de medula há já uns anos, nunca fui chamada e confesso que gostava de o ser, de poder ajudar alguém.
A única certeza que tenho é que quantos mais formos, maior é a probabilidade de meninos como o Duarte poderem ser salvos ou pelo menos terem uma oportunidade disso acontecer. Tão pesada esta palavra, ser salvo, como se pudesse estar na mão dos comum dos mortais salvar alguém. É que ás vezes está mesmo. E não custa nada e pode fazer toda a diferença.
E o frio, gente, o frio. E esta voz que nunca mais vem. Será que um dia volta? E esta tosse horripilante que me cansa e tira o sono.
Estou a perder a paciencia. Ai, ai.
Isto, ou sopas e descanso. Que a minha voz escafedeu-se, a garganta arranha e o pingo no nariz não para de espreitar.
Agora tenho que ficar quietinha à espera que passe e os miúdos que acham tanta graça, é que assim sem voz não lhes posso grazinar aos ouvidos.
Bom fim de semana.
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